MUDANDO DE PROFISSÃO POR VOCAÇÃO OU POR FALTA DE OPÇÃO? PARTE I

Publicado em 07/04/2020 - Autor Mauricio Almeida

Aos 58 anos, após uma carreira de 40 anos dedicado como executivo técnico e empresarial, me peguei pensando o que eu gostaria de fazer para o resto da minha vida. Minha experiência foi sempre voltada para produção, planejamento, qualidade, desenvolvimento de negócios e administrativa/financeira. Mas me senti instigado a pensar que era hora de mudar, pois o mercado em 2013, já dava sinais claros de mudanças radicais no setor de Óleo e Gás, na qual eu pertencia, assim me perguntei: “O que eu quero fazer depois dos 65 anos? Qual será o meu plano B por convicção?”. Após criteriosa análise, verifiquei que a área da perícia judicial poderia ser um bom caminho para este segunda trajetória profissional, e melhor, para o resto da minha vida, pois teoricamente reuniria toda a minha experiência, principalmente em auditoria e confecção de relatórios, bem como prática na área gerencial.

Bom, conversei com vários amigos e ouvi várias informações principalmente daqueles que já participavam ativamente deste mercado, ou seja, deixei cair aquele toró de palpites e fiz a celebre pergunta sobre o que eu mais gostava de fazer, e cheguei à conclusão óbvia, engenharia. E desta forma identifiquei a perícia judicial, na área de engenharia, que poderia ser realmente o meu caminho. Desta forma, decidi planejar a pavimentação do meu futuro de vida. Baseado nisto, procurei um dos mais conceituados cursos de especialização do Rio de Janeiro em “Engenharia de Avaliações e Perícia Judicial” e após 4 meses de intensas aulas, conclui o curso e tive a certeza que era este, realmente o caminho que iria seguir no futuro.

Assim, a vida seguiu em frente e voltei aos meus afazeres, sendo que o que havia previsto, aconteceu, o mercado diminuiu e as oportunidades em óleo & gás escassearam. A catástrofe brasileira começava a dar sinais de despertar, onde as empresas começaram a demitir sistematicamente e em seguida, a fechar. Uma das consequências naturais, foi o aumento considerável de ação judiciais, com seus litígios pertinentes ao setor de petróleo.

Em 2016 deixei o cargo executivo e entrei de cabeça na perícia e consultoria do setor de Óleo e Gás. O que se sinalizava como uma catástrofe, acabou virando uma excelente opção de trabalho. Naquele momento fiquei contente, pois tinha feito meu dever de casa antecipadamente e achava que agora eu iria surfar em uma onda gigante e o melhor, na frente.

Ledo engano! Eu tinha virado um estagiário na área e como tal não tinha todas as respostas para as minhas necessidades profissionais, pois para ser perito judicial, além de ser um bom técnico, se exige conhecer muitas leis e normas direcionadas a este ramo de atividade.

E pior, descobri naquela época que o curso que havia feito de especialização de seis meses, servia apenas para me dar os conhecimentos básicos, mas não eram suficientes para me cadastrar no Tribunal de Justiça, pois seria necessário fazer um outro curso de perito na ESAJ (Escola Superior de Administração Judiciária), para só então poder entrar na lista oficial de peritos do TJRJ. Como bom neófito, fui novamente aprender e me capacitar neste curso específico, com a presença de mais de 200 alunos.

Ao entrar na sala fiquei assustado com a quantidade e diversidade de profissionais que tinham idades, capacitações e objetivos diversos do meu.

Durante este curso comecei a tirar algumas conclusões extremamente importantes:
• A maioria dos profissionais que ali estavam, buscavam um emprego, e não uma profissão;
• Quase na sua totalidade, não tinham a menor ideia que teriam literalmente que começar uma caminhada repleta de novos desafios;
• Que ao primeiro sinal de uma outra oportunidade qualquer de emprego, a profissão de perito seria jogando fora imediatamente, sem o menor pudor;
• Que, conversando com os colegas, identifiquei que a maioria não possuía perfil para exercer tal função;
• Que uma enorme quantidade de profissionais, buscavam também uma segunda renda, ou seja, literalmente um “bico”;

Não adianta buscar uma nova área profissional em cima de bases frágeis e irreais como as citadas acima. A mudança é extremante salutar se verdadeira e com convicção, vindo de dentro para fora e sabendo que o caminho é longo e difícil. E com certeza será tão mais difícil, caso você não esteja envolvido por dentro na sua essência.

Um profissional que deseja realmente ser da área de perícia judicial por convicção e não por oportunismo momentâneo, necessita possuir várias atribuições e convicções:
• Inicialmente ter bons conhecimentos técnicos, teóricos e práticos da área de sua especialidade;
• Ter um histórico de conduta ética ilibada;
• Ter aptidão para fazer laudos e pareceres;
• Ter a humildade necessária para apesar de ser um profissional experiente, saber que está começando uma nova caminhada e como tal será tratado como um novato;
• Ter na sua essência pessoal, a capacidade de falar menos e ouvir mais;
• Saber se posicionar perante as partes envolvidas;
• Ser o profissional da irrestrita confiança do magistrado;
• Saber ouvir, o que não significa ficar calado;
• Ter a capacidade de apurar todos os fatos que envolve a perícia;
• Possuir conhecimentos que permitam realizar as pesquisas indispensáveis para conclusão de seus laudos;
• Possuir as características de colher os fatos e com isenção registrá-los de forma clara e concisa;
• Saber que tudo começa de baixo para cima e não o inverso.
• Ter sempre em mente que quando em diligência pericial, se encontra como auxiliar de confiança do magistrado e como tal deve-se comportar; e
• Ser perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante, perseverante e perseverante.

O caminho é longo e muito difícil, mas extremamente agradável e prazeroso, assim, quando se busca uma satisfação profissional por acreditar realmente no que está sendo feito, você será perseverante e acordará todos os dias com a satisfação estampada no rosto. É assim que me sinto atualmente!

Bom, espero ter contribuído de alguma forma para mostrar aos profissionais de todos os setores, que apesar da idade, existe sempre um futuro melhor te esperando, Um grande abraço e até o próximo bate papo.

Mauricio Almeida