MUDANDO DE PROFISSÃO POR VOCAÇÃO OU POR FALTA DE OPÇÃO? PARTE II

Publicado em 07/04/2021 - Autor Mauricio Almeida

No ano passado, publiquei um artigo, no qual procurei mostrar, através de uma análise das informações que possuía até aquele momento, que não adianta mudar de profissão por falta de opção. No último artigo, abordei minha trajetória de mudança profissional, fazendo o curso para perito judicial. A partir de então, fiz algumas descobertas, que, agora, venho compartilhar.

Na mesma semana em que recebi o número de cadastro de perito judicial do TJRJ e do TFRJ, tive uma grande alegria. Recebi um telefonema de uma vara federal para fazer a avaliação de uma embarcação. Pensei, nossa, acertei na minha decisão. Obviamente, aceitei a nomeação e, em ato contínuo, fui para uma gráfica e fiz uma centena de dossiês para entregar nas varas.

Peguei o carro e fui para o município de Campos de lá, parando de Vara em Vara. Em 90% delas, não passei do estagiário que atende no balcão do cartório, que recebeu, com boa vontade, o meu currículo.

E o que aconteceu naquele momento foi quase nada. Estava preocupado, pois me sentia perdido e sem referências, uma vez que eu vinha do mercado da engenharia, especificamente, da área naval e óleo & gás, e não da jurídica. O pessoal que trabalha em perícia dessa especialização já possui uma posição consolidada, não tem interesse em concorrência e, portanto, evita dar muitas dicas.

Já estava meio desolado, pensando no que fazer. No entanto, aqueles que me conhecem sabem que desistir e abandonar, são palavras que não fazem parte do meu dicionário. Por característica pessoal, sou focado quando decido algo, os amigos mais próximos me conhecem, sou chato e, como brasileiro, não desisto nunca.

Porém, vou ser bastante realista: chegou um dia que sentei em um bar ao lado do Menezes Cortes, no fim de um dia de porta na cara, para tomar uma água e pensar como virar esse jogo, pois eu tinha certeza que devia ter um caminho.

Não se passaram nem dez minutos, e, como já era fim de dia, encontrei um colega do mercado naval e de óleo & gás. Convidei-o para tomar um café para passar o tempo. Conversa vai, conversa vem, ele comentou que eu deveria fazer um curso de mediação, e que essa estava sendo uma nova atividade da área jurídica, e, em ato contínuo, indicou-me uma instituição.

Quando ele fez esse comentário, imediatamente coloquei] na cabeça que eu não poderia nunca ser um perito judicial frequentando somente balcão dos cartórios das varas, ou seja, eu tinha que começar a frequentar o meio jurídico, fazendo network, e um curso desses poderia ser o caminho. Ele foi para casa, e eu fui, rapidamente, para a instituição que ele me sugeriu e fiz a minha matrícula.

Matriculado, curso iniciando, chego, no primeiro dia do curso, e vejo que minha decisão estava correta, pois, além de praticamente só ter advogados como alunos, também os professores eram advogados e até desembargadores. BINGO! Acertei.

Ali, algo me chamou a atenção. Na turma, tinha um grande empresário, e, tão logo surgiu uma oportunidade, aproximei-me dele e perguntei qual era o objetivo dele, para fazer aquele curso. Ele me deu as suas razões pessoais e comentou que o melhor seria fazer curso para ser administrador judicial e ser registrado no TJRJ.

Naquele momento, não tinha a menor ideia do que era ser Administrador judicial. Fui ler, estudar e entender. Nesse estudo, verifiquei a intimidade que tinha com a perícia e avaliação de engenharia e, novamente, eu iria mergulhar no meio jurídico, que era o meu objetivo-fim.

Em um determinado momento, após a minha aproximação com esse empresário, ele me convidou para visitar um desembargador amigo e nosso professor, para sabermos quando seria novamente ministrado esse curso, pois já havia dois anos que a ESAJ não o disponibilizava. O magistrado sugeriu que fossemos até a instituição para buscar as informações, pois o curso estava sendo reformulado e, em breve, seria disponibilizado novamente.

Fomos no outro dia, e uma funcionária nos disse que ainda não tinha data para ser iniciado e que deveríamos acompanhar pelo site da entidade. Perguntei se eu poderia ligar periodicamente para a ela, que me sinalizou positivamente. Com o nome e o telefone, coloquei um alerta no meu smartphone para que, toda quinta-feira, eu telefonasse para essa funcionária, perguntando a data. E assim fiz, durante 11 messes e 18 dias.

Na última quinta-feira de abril, liguei, e a referida funcionária me informou que, na semana subsequente, seria dado início à inscrição para o curso de habilitação de registro como administrador judicial do TJRJ. Ligue para aquele colega empresário do curso de mediação, para avisar da abertura das inscrições, afinal, ele tinha me dado a dica do curso.

Por preciosismo, voltei a ESAJ no outro dia, até porque tinha um amigo que iria viajar e também queria fazer a inscrição. Então, junto com ele fui buscar informações. A funcionária me informou as condições que me permitiriam fazer a inscrição do meu amigo e aproveitei para perguntar a que horas começaria o atendimento para inscrição. Ela me informou que seria às 14h00, em ordem de chegada, pois havia somente 49 vagas.

Quando saía na portaria do prédio da ESAJ, resolvi perguntar a que horas as portas do prédio se abriam. O porteiro me perguntou, sem saber o porquê da minha pergunta: “O senhor vai fazer o curso de administrador judicial, né?” Disse que sim e perguntei por que e ele me perguntava isso. Ele me disse que muitas pessoas perguntavam sobre o horário da abertura do prédio por causa dessa inscrição e me informou que abriria às 8h00.

Ao chegar em casa, avisei a minha esposa – que também faria o curso – que, no dia, eu sairia ás cinco da manhã da Barra da Tijuca para o centro. Ela me criticou e disse que estava exagerando, mas não abri mão e mantive minha programação.

E assim fiz. Saímos cedo e, quando chegamos às 6h15 na porta da ESAJ, depois de ouvir a minha esposa reclamar todo o percurso, encontramos sete pessoas em uma fila na porta da instituição, uma delas, a primeira da fila, estava ali desde a noite anterior.

Quando se abriram as portas da ESAJ, subimos e começamos a nos organizar com senhas, que nós mesmos providenciamos. Liguei para o empresário amigo para ele vir imediatamente, pois às nove horas da manhã já havia cerca de 35 pessoas. Rapidamente, ele chegou e, as 11h30, já tinha o número de pessoas iguais ao das vagas disponíveis, 49.

Com isso, a direção do curso resolveu nos alojar, com uma senha oficial da ESAJ, em uma sala próxima, para dar um pouco de comodidade, já que estávamos há horas em pé.

Aconteceu o que já se esperava: no início da inscrição oficial, às 14h00, começou chegar muita gente, e já não tinha mais vagas. Confusão armada, mas resolvida com maestria pela direção do curso da ESAJ, que disse que não havia o que discutir, já que os corredores e salas tinham câmeras de vídeo e tudo fora gravado.

Naquele momento, tive a nítida percepção de que estava no caminho correto para o meu objetivo final, que era me consolidar na área judicial.

O curso começou e verifiquei que os professores, se não eram juízes, eram advogados realizados como administradores judiciais, ou seja, todos eram clientes potenciais.

E então, o curso começou com o engenheiro entranhado no meio dos advogados, uma vez que a lei 11.101 de 2005 permite que engenheiros também sejam administradores judiciais.

Somente o fato de estar naquele meio, por si só, não resolveria o meu objetivo de interagir de forma plena com os colegas advogados.

Então, bolei uma estratégia. Todos os professores que se apresentavam ganhavam o meu dossiê e o meu cartão de perito. Imediatamente, criei um grupo no WhatsApp dos colegas (quase que todos advogados atuantes) e comecei usar a minha experiência profissional para organizar a turma com um arquivo das aulas nas nuvens, pois o curso era extremamente puxado, principalmente, para não advogados. Foi uma excelente decisão, uma vez que me possibilitou interagir muito com os colegas da turma (advogados) e apresentar a minha experiência.

Curso concluído e aprovado, depois de diversas provas.

Agora, as visitas aos fóruns eram por dois motivos: perícia e administração judicial

Entretanto, nesse meio tempo entre o curso de perito e de administração judicial, em função do meu registro de perito e de minhas visitas, comecei a ser nomeado em dezenas de processos.

Comecei perceber que a minha especialização era diferente para perícia. Enquanto tinha engenheiros colegas, com um grande número de perícias, eu tinha cerca de 30% da quantidade deles, mas, em termos de valores financeiros, eram iguais e, em alguns casos, o dobro ou triplo.

Além disso, as visitas às varas são muito importantes, sim, mas, no meu caso, tinha um componente muito importante, o conhecimento específico na área de contratos e técnicas no seguimento da Indústria Naval e de Óleo & Gás.

Como comentado no primeiro artigo, o profissional que deseja realmente ser da área de perícia e administração judicial, por convicção e não por oportunismo momentâneo, necessita possuir todas aquelas atribuições e convicções e aumentar substancialmente a sua RESILIÊNCIA.

Com isso, agora, meu foco é buscar a assistência técnica em grandes escritórios, maritimistas principalmente, e ser administrador judicial junto ao judiciário, o que já começa acontecer em parceria com um amigo advogado e empresário.

Um grande abraço e até o próximo bate papo.

Mauricio Almeida